quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

 

Contrabalançai promessas com promessas
e estareis a pesar o nada.

in Sonho de uma noite de Verão, William Shakespeare









Uma mão procura outra, no meio de dúzias delas. Encontrará? Dez dedos veêm-se entrelaçados no meio de centenas deles. Quatro pés levam dez dedos unidos por dois corações. Cento e sessenta batimentos cardíacos por minuto acompanham uma orquestra estrondosamente discreta. Dezenas de passos dados e os dedos não se deslizaram nem um milímetro. Encontrões, empurrões. Eis a multidão a emergir. As mãos continuam como se encontraram. Amontoamento cada vez maior. Quatro pés levam dois dedos unidos por duas mentes. Amontoamento sufocante, influenciável. Quatro pés deixaram de levar dois dedos unidos. Dois pés fogem do amontoamento, outros dois pés penetram nesse mesmo amontoamento; ouve-se a melodia nostálgica de oitenta batimentos cardíacos. Cruzam-se dois olhares, mas um desvia-se de imediato.
Que significará isso?
Duas mãos procuram outras, no meio de dúzias delas.
 
 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Aprensento, a quem ainda não conhece, um dos melhores poemas (para mim) de Ricardo Reis.
Uma filosofia de vida que em muitos momentos, talvez nestes exactos momentos que o poema relata, faz bastante sentido.




Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)


Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.


Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.


Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.


Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.


Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

 
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.


E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

What if...







Às vezes, gostava de aprender as regras de jogos dos se(ntido)s.

É, talvez, a melhor música deles (das não tão conhecidas).
E eu vou vê-los em Maio, melhor notícia do dia e da semana!