Hoje já não te conheço. Somos estranhos com memórias felizes. São só elas que fazem com que tenhamos algo em comum: um passado feliz.
Quem disse "E viveram felizes para sempre" mentiu. Ninguém é verdadeiramente feliz, ninguém pode afirmar "Eu sou feliz", mas também ninguém pode dizer "Eu não sou feliz". Ninguém é feliz, mas todos procuramos saber o que é a felicidade. Podemos ter rasgos dela como um dia nublado em que o sol, inesperadamente, penetra por entre as nuvens: por alguém que está ao nosso lado e nos faz sorrir, uma surpresa, um dia bom, um gesto, uma palavra. Mas, tal como o sol que desaparece por força das nuvens, também o que foi bom hoje, amanhã, na próxima semana, no próximo mês, tudo o que de bom foi vivido hoje, não perdura para a eternidade e transforma-se numa lembrança.
Hoje já não te conheço. Só me lembro de ti. "Onde estás? Como te sentes? Que tal o teu dia?", perguntas idiotas que hoje, dia em que não te conheço, só podem ser respondidas pela minha memória. É triste lembrar que te conheci. É triste imaginar que, hoje, as respostas, talvez, já não serão as mesmas.
Que ironia o processo de conhecer na perfeição uma pessoa, cada detalhe, cada momento, cada próximo passo que essa pessoa iria tomar e, hoje, essa pessoa ser uma desconhecida, nem sequer sabendo o paradeiro dela. Consideras-te feliz? Pensa no agora e amanhã já nada será igual.